segunda-feira, 14 de maio de 2012

Carta pra Janaina

Muitas coisas... coisas demais.
A cerca de uma semana enviei um e-mail. Uma carta. Aconteceram algumas coisas muito ruins... foi sem querer, mas aconteceu. O problema é que uma pessoa ficou muito magoada,  entristecida, e talvez com raiva. E penso que tal pessoa valorizou demais uma brincadeira, talvez porque naqueles dias já não estivesse bem consigo mesma por outros motivos. E por mais que eu não me sinta exatamente culpada pelo que aconteceu, pois descobri que a responsável por tudo isso fui eu, lamentei muito e continuo lamentando.
Na carta que enviei eu disse tudo o que precisava falar naquele momento. E agora, espero resposta.
Segue a carta a baixo.


Janaína,


eu decidi escrever pra você porque agora eu sei que o responsável pela sua grande mágoa e decepção, o motivo que te fez tão mal a ponto de deixar todos os nossos colegas, inclusive eu, preocupados com o que havia acontecido de tão grave e, principalmente, quem teria sido a pessoa responsável por isso, que aliás, fez com que alguns assim se sentisse, fui eu. E tive essa certeza nessa quinta feira.

Ainda que em dúvida por não ter tido a oportunidade de estarmos juntas depois do ocorrido, eu precisava te ver pra saber. E nem foi preciso muita observação dado ao fato de que fui ignorada, diferentemente de todos os outros colegas. Mas a magoada é você e sendo assim tens todo o direito de agir conforme melhor te soar.

Desde o momento em que soube que você não estava bem e que alguma coisa muito séria havia acontecido dias antes lá no trabalho, que meu alerta acendeu. Afinal, vivemos implicando uns com os outros e, particularmente, era muito uma prática entre mim e você. Poderia muito bem ter sido eu.

De tudo o que se especulou, o que mais me chamou atenção foi o fato da Aninha dizer que você disse a ela ter visto, naquele dia, raiva no semblante e nas palavras dirigidas a você pela tal pessoa. Eu? 

Sinceramente, eu não quis esperar 30 dias pra falar sobre esse assunto, até porque o tempo passa, as palavras murcham e acabam se perdendo. Mas a mágoa, esta não morre tão facilmente.

Ainda assim, fiquei pensando se devia ou não falar sobre isso, uma vez que você preferiu não fazê-lo. Não pra mim, pelo menos. Então resolvi que eu não ia ficar alimentando o cachorro malvado, me remetendo a uma história que conheço, sobre um velho índio e seus conflitos internos, que diz que dentro dele existem dois cachorros. Um que é muito mal e o outro que é muito bom. Mas que os dois estão sempre brigando. Até que perguntam a ele qual cachorro ganha a briga, e ele responde que ganha aquele que ele mais alimentar.

Cheguei a pensar em fazer do meu silêncio a minha melhor resposta pra esse absurdo, porém em consideração ao tempo que nos conhecemos e o carinho que tenho por você, apesar de não ter conseguido enxergar, preferi expor os meus pensamentos. Se te incomodei tanto assim, é porque o teu tacho já devia estar transbordando.

Entenda uma coisa, ninguém tem que se violentar com o que não quer e nem deseja. Se brincadeiras idiotas ou não fazem tanto mal, é necessário o corte, o momento do chega, do não quero mais porque incomoda.

Você acabou dando o seu corte sim, mas de maneira equivocada. Em momento algum eu me dirigi a você com a raiva que você disse ter visto. Talvez com irritação, algum excesso ou impaciência, pode ser. Mas raiva? Não. Raiva não. Que motivos eu teria pra ter raiva de você?

Não sou santa e nem quero ser, pois sei que não tenho nenhuma vocação. Sou uma mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo em que fico penalizada com algo ou alguém, não tenho mesmo a menor paciência com frescuras e neuroses descabidas. Meu trato é de choque. Mas ninguém tem a obrigação de tolerar ou suportar se não quiser. Posso parecer fria em certos momentos, mas só eu sei o que isso me custa. Não sou nem de longe a pessoa mais forte que gostaria de ser. Eu sou como sou. Mas não estou me lamentando, e sim, comentando.

Não é só você que tem mil problemas. Também fico confusa, também me magoo, também choro, também sofro, também to sem dinheiro e cheia de contas pra pagar. Nesses nove anos em que trabalhamos juntas, já me aborreci e me magooei diversas vezes com todos, porém, respiro fundo, procuro mudar meus pensamentos e deixo sair na urina, pra no dia seguinte, sem nenhuma falsidade, recomeçar zerada. A recepção é tudo. Se começar mal, provavelmente terminará mal também. Não é uma coisa muito fácil, mas é o que procuro buscar tentando enxergar o que conheço de melhor de cada um e manter nossa cumplicidade. Porque é assim que vejo nosso grupo, cheio de cumplicidades e companheirismo. E me sinto muito orgulhosa por isso.

A vida é realmente imprevisível. A cada dia somos tomados por acontecimentos novos e inesperados, muitos dos quais tristes e lamentáveis.
Imagino que você já tenha pensado mais de uma vez: "Caramba, que decepção... Jamais poderia esperar isso desta pessoa..." 
Quem não pensou? Acontece que na realidade, a pessoa em questão, a que causou a decepção, pode estar isenta de qualquer maldade pela sua atitude. O problema maior está em nossos valores e na forma de como queremos que as pessoas sejam ou nos vejam. 

Todos nós podemos encontrar nossa verdade no convívio com as pessoas. As palavras são verdadeiros torpedos de energia potencializadas pelo que estamos vivenciando ou sentindo no momento. Se a energia é boa a palavra fica suave. Se for ruim pode funcionar até como uma pedrada.
A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Ninguém é igual a ninguém. A gente sofre porque espera demais das pessoas. Elas são elas com seus conceitos e valores e você é você. As verdades são particulares. Nas dificuldades as pessoas mudam. Nas festas são todos iguais. As pessoas dão o que podem dar. Nós é que temos expectativas diferentes.

Pode ser que lendo tudo isso você tente analisar a sua vida e encontre novamente os momentos que te magoaram profundamente. Isso acontece porque simplesmente a sua expectativa não foi recompensada conforme o seu desejo. Acredite, no fundo somos nós mesmos que nos ferimos. As pessoas, na realidade, nunca nos prometem nada. Repito: a gente é que espera demais delas.

Posso ter exagerado na dose, mas a tua mágoa com o que você diz ter visto também me traz mágoa pela sua inverdade. E a verdade da tua certeza só eu sei porque fui em quem fiz, não é? E o pior é que eu nem sei exatamente o que foi e em que momento aconteceu o meu delito. 

A decepção é inerente ao homem e não vamos nos livrar dela enquanto vivermos porque não depende só da gente. E mesmo que dependesse, seria difícil porque não somos perfeitos e em algum momento iremos vacilar, ainda que não seja a intenção.

Não quero valorizar este episódio, mas entendo que independente de tudo, a dor foi sua. E, portanto, irei respeitá-la. No que depender de mim, tentarei fazer o possível para evitar prováveis futuras brincadeiras que lhe possam causar mais males, ou ainda, nenhuma brincadeira, se assim você preferir.

Espero de verdade, que você aproveite bastante as suas férias, relaxe, reflita e, principalmente, possa descansar o seu coração.

Jaqueline.