sábado, 4 de fevereiro de 2017

35/365 - Cozinhar

As vezes tenho vontade de perguntar ao meu marido se ele ainda fica chateado comigo por eu não fazer comida. Ele sabe que não gosto de cozinhar e isso já foi motivo de brigas entre nós. Mas faço todo o resto do trabalho doméstico, lavo, varro, limpo, faxino, esfrego... essa parte não me incomoda. Porém, como disse, já nos desentendemos muito por isso e hoje simplesmente não há reclamações. Hoje, simplesmente, ele faz. Mesmo que esteja tarde, mesmo que esteja cansado ou que tenha chegado de algum compromisso e nada tenha encontrado pronto. E eu sei que isso é ruim. Normalmente, um arroz, um feijão sempre tem. Ficando faltando só a mistura, o complemento. E ele vai e faz. Aliás, ele se liga muito mais nessa parte do complento do que no trivial do comum arroz e feijão. (Ele) tem criatividade, incrementa a comida, enfeita a salada, gosta de experimentar novos sabores, de inventar, de criar. E sempre fica muito bom.
Coisa que eu não consigo. De vez em quando faço alguma coisa, eu sei cozinhar, mas diferente dele, fico só com o trivial. Não invento, não imagino, não crio nada. Fico no básico. Acho que porque não gosto de cozinhar, se eu gostasse com certeza seria diferente. Que bom que o tenho. Apesar de que, como ele mesmo já me disse, gosta de cozinhar sim, mas sem a obrigação do dia a dia. E infelizmente, cozinhar é uma função diária. Não tem como escapar. A sociedade espera essa obrigação doméstica da mulher, afinal ela foi criada pra isso, não é mesmo? E eu estou sendo irônica. É claro que isso foi noutros tempos, mas sabemos que está arraigada no inconsciente coletivo da população. Mesmo os tempos tendo mudado muito e as funções de homens e mulheres terem se misturado, ainda rola muito machismo incubado. Não acho que meu marido seja machista, mas quando ele disse não gostar de cozinhar por obrigação, eu pensei logo: então seria essa a minha obrigação? Porque sou mulher? É complicado... Não é que eu não goste de cozinhar, eu detesto mesmo! Mas o resto dos trabalhos domésticos diários, eu realmente não me importo de fazer, mesmo quando estou com preguiça, sem vontade, desanimada e até doente. Eu vou e faço. Sem muitas lamentações, sem sofrimento ou pesar. Diferente de cozinhar. É fato.
Será que ele já percebeu isso em mim e por isso não reclama mais? As vezes tenho vontade de perguntar, mas não faço porque virou meio que tabu pra mim. E assim vamos levando.