sábado, 6 de janeiro de 2018

77 anos do meu pai

Ontem meu pai fez 77 anos. Sempre foi um cara do bem, tranquilão, trabalhador, honrador de seus compromissos. Toda minha vida lembro do meu pai nunca tirar férias, com exceção de uma única vez, que até viajou pra Brasília, onde tenho parentes. E foi só. Trabalhou desde bem moleque, foi arrimo de família, o mais velho de seis irmãos. Seu pai morreu muito cedo, deixando sua mãe com tantos filhos pra cuidar sozinha. Teve que crescer na marra.
A vida toda também quase nunca vi meu pai doente. Se tinha um resfriado ou gripe, suportava suas dores e ia trabalhar. Pouquíssimas foram as vezes em que o vi ficar em casa, gemendo de dor, quando definitivamente, a febre e as dores o impediam de continuar.
Não sei detalhes da vida íntima dos meus pais, foram poucos os desentendimentos que assisti entre eles, normal, brigas de casal. Nada que me assustasse. Se houve situações mais graves ou pesadas entre eles, souberam controlar. Aos meus olhos, nossa vida seguiu tranquila.
Meu pai aposentou, mas continuou trabalhando. E assim foi até que aos 69 anos, sofreu um AVC hemorrágico. Foram 3 meses internados, mas sobreviveu. As sequelas da doença o deixaram sem automia para cuidar de suas necessidades fisiológicas e de tomar seu próprio banho sozinho. Seu lado esquerdo ficou paralisado, inutilizando seu braço e dificultando muito o seu andar.
Meu pai nunca foi uma pessoa ativa, com atividades mais vigorosas ou exercícios físicos. Ele foi por toda a vida um burocrata. Trabalhou sentado a uma mesa com muitos papéis. Sua mente foi seu instrumento de trabalho. E trabalhou muito, foi o provedor e cuidador da família. Toda sua vida. Tímido e introvertido, se soltava quando tomava umas cervejinhas. Então ficava expansivo, contava piadas, ria fácil. Gostava, nos fins de semana, de sentar nos butecos da vizinhança com alguns conhecidos e deixava vida rolar, bebendo umas cervejinhas. Não era de sair, de viajar, de se divertir. Sua vida era bem caseira. Era trabalho-casa, casa-trabalho. Quando pequena, lembro que saíamos em passeios de excursões. Era bem legal. Lembro também dele me levar pro futebol num clube que tinha perto de casa. Eu adorava! Ficava brincando com outras crianças próximo ao alambrado do campo. Engraçado é que não lembro dos meus irmãos junto. Lembro só dele e eu. Talvez por eu ser a mais velha e meus irmãos menores, ele só me levasse... Não lembro dessa parte.
Infelizmente, a doença derrubou meu pai. São 7 anos vivendo com dificuldade. A idade passando, o corpo enfraquecendo e envelhecendo, e as limitações que o AVC trouxe deixando-o praticamente na cama o dia todo. E que ele prefere, pois diz que a pequena caminhada que minha mãe o obriga a fazer, transitando entre o quarto, banheiro, cozinha e copa, onde toma o café da manhã e almoça, é muito extenuante pra ele.
Meu pai fez 77. E a gente comemorou.