domingo, 20 de agosto de 2023

Domingo difícil. Ô mãe...

A situação da minha mãe tá cada vez mais difícil. E eu não sei mais o que fazer. Não queria que ela fosse pro hospital, porque a probabilidade dela ficar e talvez não voltar, acho que é bem grande. Ela não tá conseguindo engolir e com isso sua alimentação e hidratação estão ficando prejudicadas. E hoje, mais uma vez, eu estou esgotada porque está sendo um daqueles dias difíceis dela comer e beber. 
É domingo. O dia que convencionou-se, eu ficar com ela. Principalmente depois que meu pai morreu, e eu passei a trazê-la pra minha casa pra que ela pudesse sair daquele quarto empoeirado, daquelas quatro paredes de todo dia e respirar outros ares com companhia constante. Ao menos um dia na semana. No início até era mais fácil, mas agora tá ficando mais complicado. Se antes era difícil pra mim por tudo o que eu senti, da dificuldade que eu tive pra elaborar essa nova realidade que se instaurou em nossas vidas (quase quatro anos), agora piorou bastante. Eu até consegui aceitar (e demorou) os novos fatos, mas lidar com as dificuldades atuais não está nada fácil, pelo menos pra mim. Os engasgos dela estão cada vez mais frequentes e piores, sua respiração superventila. É uma imagem bem horrível de assistir. É difícil dela comer, beber e engolir qualquer coisa, sólido, mole, pastoso ou líquido, e ainda ter que respirar. É uma gosma transparente e pegajosa que acumula na garganta e faz tudo piorar. Ela consegue engolir, ela consegue cuspir. Às vezes é mais fácil, outras vezes muito difícil. Hoje foi e está sendo bem difícil. E eu estou sem prumo. Não consigo ter equilíbrio diante disso tudo, por mais que eu tente ser forte. Não sei o que fazer e me sinto sozinha, não tendo com quem dividir essas angústias. Meus irmãos, não temos cumplicidade e talvez o mesmo entendimento. Eu sinto que não temos o mesmo entendimento sobre tudo o que passa. Mas também não posso dizer o que eles sentem, pois cada um é cada um e quem sou eu pra falar do sentimento do outro, uma coisa tão intrínseca, tão de dentro. Cada um sente como tem que sentir, e eu evito julgar mais ou menos qualquer sentimento do outro. Mas sei de mim. Sei que me sinto frágil e sem saber o que fazer, mas tendo que fazer o que não sei. Tá muito difícil. Era difícil antes. Mas tá bem pior.