domingo, 2 de julho de 2023

Expectativa 4

Nada é mar de rosas o tempo inteiro, mas tem momentos tão difíceis de entender e aceitar. E que doem. Por mais que eu me esforce pra minimizar os danos. Mesmo pensando que pode ser só um momento ruim. E que a pretensa intimidade faz isso com as pessoas. Descobri, ficando quase vinte dias com meu filho, na casa dele, só eu e ele, que não sei lidar com ele. A maioria do tempo foi muito bom, mas teve pelo menos dois momentos que me magoaram muito, mesmo eu tentando encontrar um outro olhar para aqueles infelizes instantes, justificar, talvez. 
Assim que cheguei, brinquei dizendo que no grupo de pagode, eles bebem muito enquanto tocam e usei o termo "encher a cara de cachaça". Ele se ofendeu de um jeito que me surpreendeu. Falei que foi só uma forma de falar, mas já era. 
Hoje, enquanto jogava vídeo game, gesticulava muito com o jogo (ele sempre faz isso), eu achei engraçado e resolvi filmar. Quando ele viu, não gostou. Eu disse que era pra mostrar pra ele como é que ele fica engraçado e usei o termo "meio doido". Sua reação mais uma vez me surpreendeu, e mesmo eu dizendo que era só pra eu mostrar como é engraçado ele jogando, não adiantou. Ficou indignado e foi onde ele disse: "talvez esteja mesmo na hora da senhora ir embora." E ainda trouxe de volta o "encher a cara de cachaça". Isso me magoou tanto. Sua capacidade de levar certos comentários meus ou atos para um lado ruim, me abalou, me deixou muito triste e me calou. Me fez querer ficar calada pra sempre. Vi que não sei lidar com ele, ou o que fazer ou dizer nessas horas. E agora eu quero ir embora pra minha casa, pro meu refúgio, meu porto seguro.
A vida dele é do seu jeito, na sua construção e nas suas convicções. Sei que fui só um instrumento para trazê-lo ao mundo e que depois do seu vôo solo, sua vida seria por sua conta. De qualquer forma, e independente de qualquer mágoa, eu sei que eu vou estar sempre por perto, ao seu lado, mas só por perto mesmo. A vida é dele.
Nessas horas eu queria tanto ter a sabedoria das mães sábias, pra dizer somente o suficiente e pra saber reagir melhor.
Um tempo antes dessa frase que me devastou, ele me informou que fui convocada, como reserva mais uma vez, para um vôo do CAN para amanhã, segunda. Na hora nem me empolguei tanto devido a tentativa anterior frustrada pelo brigadeiro. Mas agora, quero muito ir embora. Recuperar o meu eu. 
Amo muito, muito o meu filho. Sempre vou amar. Perdôo e sei que foi um momento ruim. Mas eu preciso voltar pra minha casa. Minha casa física e espiritual.