segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O que eu sinto é raiva

Não tenho mais ciúme, o que eu sinto é raiva. Raiva de você por nunca ter entendido minha fragilidade e minha dor. Raiva dela por sua insensibilidade, por tripudiar dos meus sentimentos, zombar e se aproveitar da minha fraqueza.

Falar meramente com você, não dá, não consigo. A gente se ataca, se ofende... Em muitas outras ocasiões eu tive vontade de escrever pra você, mas nem isso eu conseguia. E por quanto tempo será assim? Quantas vezes sentirei a mesma mágoa e dor?

Nosso relacionamento dura já 13 anos. Nem eu sei como chegou tão longe depois de tanta pancada. Acho que facilmente eu teria sido uma boa mulher de malandro, daquelas sem atitude, nem amor próprio. Sem dignidade como você mesmo me acusou certa vez... 

No início, senti ciúmes sim, ciúmes de uma mulher que você elogiou várias vezes e em vários aspectos. Mas isso foi no começo. Ciúmes de uma figura que não saiu de perto da gente por anos. Que se colocava no nosso meio por conta de ser mãe do seu filho. Filho este que sempre foi seu ponto fraco, e que ela bem sabia (e ainda sabe) disso. Quando não, por você mesmo, era convidada a participar dos nossos encontros, reuniões e passeios. Ela tinha que estar junto, não podia faltar. 

Quantas vezes nós brigamos por isto! Você realmente nunca percebeu o quanto a presença dela era frequente nas nossas vidas? Do quanto não podíamos ter privacidade porque ela deixava seu filho conosco pra ela poder se divertir? Mas acho que posso entender. Naquele tempo você não se importava tanto comigo, sequer me amava. E entre um filho amado, onde junto você trazia sentimentos de culpa, e uma namorada sem tanta importância, era fácil deixá-la ir se divertir e ficar cuidando do seu filho. E quanto a mim? E quanto a nós? 

Você pode imaginar como eu me sentia quando ela dormia na sua casa, repetidas e sucessivas noites, "no quarto do seu filho" (claro, como tantas vezes você me disse), após chegar das noitadas com os amigos, incluindo a sua sobrinha que, neste caso, era mais uma que, querendo ou não, colaborava em nossos desacordos? Você, ela, o filho de vocês e um casal de velhos que jamais iriam contestá-lo, numa mesma casa, a sós, a noite, de madrugada. Fico imaginando, em momentos insones, as conversas e intimidades tocadas nessas madrugadas, já que eram tão amigos. E eu, em casa, sozinha, querendo você e sabendo disso tudo. Você consegue imaginar? Acha que foi fácil? Teria sido fácil pra você?

Será que consegue imaginar o porquê do meu ciúme "louco", "neurótico" naquela época?

Você nunca conseguiu esconder sua admiração por ela e por seus atos. Dizia não sentir mais nada por ela a não ser uma terna amizade... E só. E só, não! Eu sempre vi culpa no seu comportamento, culpa pelo que você fez ou deixou de fazer enquanto foi casado com ela. Você sabe o que você fez, porque fez e como fez. Se exagerou, passou dos limites, foi por causa do seu gênio ruim. Aquele mesmo gênio que te torna agressivo e mau, cruel. Sem dó nem piedade. Mesmo que depois venha o arrependimento. Mas aí, era tarde e só restava a culpa. Você tinha culpa.

Eu, pelo meu lado, uma mulher apaixonada que não conseguia se livrar desse sentimento que já fazia tão mal, ficava sem ação. E por vezes até humilhada. Quantas foram essas sensações! E tanto você sabia disso que muitas vezes me perguntou como eu podia ficar com uma pessoa (você) que me causava tanto mal! Como eu podia fazer isso comigo? 

Lembra de como você detestava quando eu chorava ou quando me encontrava deitada, deprimida por causa disso tudo? Você não suportava me ver tão desgraçada, tão frágil. E nem chorar eu podia! Você me desprezava mais ainda por isso, o que piorava ainda mais nossa relação. Em vez de adquirir sua admiração, eu só conseguia ainda mais o seu desprezo pela minha fragilidade. E apesar disso tudo eu continuava passiva. Não conseguia reagir. Ponto pra ela, que forte e decidida, aos seus olhos, conseguia cada vez mais sua admiração e respeito, enquanto que eu...

Muita coisa aconteceu nesses anos todos, até que aconteceu a traição de fato, descoberta por mim por uma falha sua (você nunca foi mesmo muito esperto). E foi dilacerante. Nos separamos, mas infelizmente, por pouco tempo. Eu fui fraca e idiota. Você até tentou se afastar de mim porque viu o quanto foi vil e desleal comigo e o quanto eu não mereci o que vocês fizeram. 
Você foi e é o responsável pelo minha raiva e pelo que transformou nossa relação hoje, em todos os aspectos.
  
Hoje não importa se ela está casada, se tem uma filha ou mora longe. O estrago já foi feito. E pra que eu não esqueça essas tristes lembranças, sua família gosta dela. Sem falar de você próprio. Não é preciso dizer mais nada. Você foi a ponte entre todos e continuará sendo porque é quem sempre os ligará, e agora ainda com mais laços reforçados, pois sua irmã se tornou madrinha da menina, que por sinal você também adora. Pena não ter sido você o padrinho, não é? Que espero, não ter sido por minha causa... Que constrangimento...

O fato é que eu te amo. Mas não a suporto. E até hoje não consigo esquecer a traição de vocês por mais que me empenhe. Mas óbvio que não vivo esse desgaste vinte e quatro horas por dia, se não não estaríamos mais juntos. Acredito no seu arrependimento e percebo o quanto você mudou, mas me sentiria bem melhor se você tivesse com ela somente uma relação de pai do filho de vocês e não se envolvesse muito mais. Porém não é o que acontece.

Confesso que as vezes me pego curiosa em relação ao marido dela, que não deve saber de nada do que aconteceu. No máximo, a versão dela. E pra quê conhecer a verdade não é? Ele chegou bastante tempo depois, e passado é passado. Além de que não vivenciou essas tormentas... Bom pra vocês, porque assim a relação de todos fica numa boa. E muito provavelmente, o pensamento dele seja de que sou mais uma atual que tem ciúmes da ex do marido... normal.


Me desculpe. Ou não desculpe. Pouco importa. Infelizmente não consigo superar e você muito pouco ajuda.