quinta-feira, 3 de agosto de 2017

215/365 - Meu lado

Eu sempre estou mais propensa a pensar que o Celso teve uma grande sorte ao me conhecer. Muita pretensão a minha, eu sei. Mas é que tenho motivos pra pensar assim. Desde o início da nossa relação, muita coisa ruim aconteceu pra mim. Eu não fui amada, pelo contrário. Fui preterida, fui deixada de lado várias vezes e por vários motivos, muitos deles sem razão de ser, toscos mesmo. Muitas vezes enganada. Fui humilhada. Acusada de não ter dignidade, de atrapalhar seu trabalho, fui chamada de louca... E mesmo assim insisti. Insanamente, insisti. Apesar dele ter me traído, eu nunca o vi como um mulherengo, pois seus interesses eram outros, como suas amizades e o que isso lhe proporcionava. E eu jamais fui egoísta em relação a entender suas relações de amizade, porém ficava esperando pela minha vez, esperava pelo meu tempo com ele, que muitas vezes não acontecia porque ele simplesmente não tinha vontade de ficar comigo. Preferia ficar sozinho e alegava sempre o seu filho, que naquela época morava com ele. E eu insistindo... sempre insistindo. Me humilhei, chorei, sofri muito. Foram anos assim.
Todo o sofrimento pelo qual passei me destruiu terrivelmente. Foi ruim, foi depressivo. Eu não tive forças de lutar contra, de me libertar. Eu não quis me libertar. Não conseguia me libertar.
O tempo passou e as coisas mudaram. Eu não sei se foi por medo de me perder, ou por ele ter enxergado a pessoa especial que eu era, por esperteza, interesse ou costume... Mas uns anos atrás as coisas começaram a mudar. E foi justamente quando, cansada de viver tudo aquilo, que percebi não mudaria jamais, eu friamente e finalmente, resolvi me libertar. Tinha chegado a hora. A minha vida tinha que seguir. Eu não podia e não aguentava viver mais anos de sofrimento do que já tinha vivido. Bastava o tempo perdido com falsas esperanças. E eu finalmente desisti. Pela primeira vez eu realmente desisti. E aí, as coisas começaram a tomar um rumo que eu jamais havia esperado. Eu disse chega. Eu disse não. E não estava sofrendo por isso.
Mas não foi fácil. Ele pegou no meu pé, não queria o término da nossa relação. Ele teve que insistir muito pra continuarmos, pois eu não conseguia acreditar que daria certo depois de tudo. Foi tanta insistência, que eu não aguentei e disse que aceitaria continuar pra provar pra ele que não daria certo. Fiquei arredia por meses, enquanto ele fazia de tudo pra me mostrar o contrário do que eu esperava. O tempo foi passando. A gente foi se acomodando, e eu relaxando. É claro que nada é perfeito, e nossa relação não foi um mar de rosas a partir daí. Mas os problemas também não foram mais como antes. O que tanto me fez sofrer, o abandono, a solidão, a desimportância, tudo acabou. Nunca mais fui preterida. Pelo contrário. Nossa vida juntos começou a acontecer, depois de 9 anos de turbulência. Até hoje não sei, de verdade, o que fez ele se voltar pra mim e passar a demonstrar o amor e o carinho que eu sempre quis ter e viver com ele. Descobriu que me amava? Será? Desde então já se passaram mais 9 anos e nossa vida realmente nunca mais foi como antes. Crises ainda rolam, de tempo em tempo. A rotina esmaga e traz impaciência, insatisfação, vontade de jogar tudo pronto alto, mas o amor está lá. E creio que seja o que nos mantém juntos depois de tantas desafortunadas vivências. Hoje eu sinto e percebo o seu amor, o seu cuidado comigo.
Será que foi imaturidade? Medo de se envolver? De perder sua liberdade? De compromisso? Não sei. Mas quando penso e digo que ele teve sorte em me conhecer, o faço porque se hoje ainda estamos juntos, foi pelo meu sofrimento. Pode parecer que me orgulho disso, mas não, não me orgulho. Pelo contrário. Penso que ninguém merece ou tenha que passar por isso; tanto sofrimento por alguém que não merece. Porque na época ele não fez por merecer o meu amor. Porém, por caminhos tortuosos, chegamos onde estamos.
Hoje me pergunto o que teria acontecido comigo se não tivesse parado na dele... Eu tinha 30 anos, estava divorciada, com dois filhos pequenos, desempregada, mas trabalhando informalmente, no auge da minha sexualidade, casa própria, e querendo viver a liberdade que tinha recém adquirido... Nunca fui irresponsável, mas era medrosa e ingênua, e a vida nos surpreende de formas que as vezes não conseguimos controlar. Tinha muita coisa pra reorganizar na minha vida..  Nunca vou saber. E, de repente, a minha história seguiu esse rumo. Fui fraca. Fui forte. E lá se vão 18 anos desde o começo de tudo...