domingo, 4 de julho de 2021

Gripezinha

Tudo começou em dezembro. Era só um caso isolado.
Era lá na China. Nada demais.
Não tinha muito com o que se preocupar.
Depois chegou na Itália. 
A primeira morte.
O primeiro lockdown.
De repente aquela cena de corpos empilhados.
E o problema cada vez mais perto.
No Brasil eram tempos de carnaval.
E por aqui nada pode ser mais importante que isso.
O vírus que lute.
Depois da quarta-feira de cinzas a gente vê o que faz.
Disseram que só atacava idosos.
Aí a blogueira fitness ficou mal.
Um atleta saudável foi parar na UTI.
O primeiro jovem morreu.
Disseram para fechar tudo.
Depois protestaram para reabrir.
Morrer de fome ou de corona?
Sem leito ou sem emprego?
Salve-se quem puder.
O primo do amigo da minha vizinha pegou.
Depois o vizinho do cunhado dela.
Depois ela. 
Depois vários outros.
De repente os números começaram a ganhar rostos.
Nomes, histórias, saudades...
Mil pessoas mortas por dia é só um dígito.
Uma pessoa amada morta é um punhal.
Uma cicatriz eterna.
A gripezinha que quebrou a economia.
Que adiou uma olimpíada.
Que colocou o mundo de joelhos.
Que fez o ateu ter vontade de rezar.
Uma guerra contra um inimigo invisível.
Que os livros do futuro hão de registrar.
Faltou caixão, sobrou soberba.
Faltou ar, sobrou medo.

_Texto retirado da internet.