terça-feira, 20 de junho de 2017

171/365 - Abelardo

Abelardo é o pai de Celso. Meu sogro. Um senhor de 87 anos que está adoentado, com câncer de pele e uma ferida crônica na perna que nunca cicatriza. Sente dores, chora, mas o que me chama a atenção é que apesar de tudo, ele tem bom humor. É uma pessoa cantante, zoadora, engraçada. Mas como nada é perfeito, tem seus defeitos que muitas vezes desagradam bastante também. E talvez por conta da idade avançada, as coisas pioram um pouco. Mas uma coisa deu pra acontecer nos últimos meses... talvez pela viuvez recente, estar mais só do que antes, e apesar do cuidado diário dos filhos, Célia e Celso, como ele fica contente quando Celso aparece por lá. E olha que ele sempre vai lá, todos os dias praticamente, e as vezes várias vezes no mesmo dia. Leva seu almoço, faz suas compras, pega o seu pagamento, leva-o sagradamente à clínica da família pra trocar o curativo de sua perna. Mas hoje eu pude ver a carinha feliz, satisfeita quando chegamos lá. Ele olhou pra Celso e seu sorriso iluminou seu rostinho sofrido e cansado. Me emocionei. Quando a idade chega é difícil mudar velhos hábitos e restam apenas os mais próximos, os filhos pra cuidar e dar assistência. A idade avançada traz a impaciência dos outros e a solidão ao idoso. É mesmo muito difícil. Mas foi, pra mim, a coisa mais bonita de se ver no dia de hoje, o olhar de alegria, o sorriso, sua satisfação em ver seu filho chegar. Tocante.