terça-feira, 8 de setembro de 2020

Cadê você, amor próprio

Eu tô aqui me olhando e pensando... Eu tô com 51 anos de idade, que não é pouca coisa, eu jamais pensei chegar nessa idade. Quando eu era criança achava essa idade tão distante, que pensava não chegar até aqui. E hoje cá estou, sentindo coisas que acho não deveria sentir, não tanto quanto estou sentindo. Me acabando num sentimento horroroso de pena de mim mesma, que eu já vivi antes, nos imaturos anos da juventude. Já passei pelas mesmas dores anos atrás. Iguais. Era pra eu ter aprendido alguma coisa. Pelo menos a me blindar. Por um tempo eu achei que já tivesse superado e cheguei a bradar que nunca mais eu passaria por isso novamente. Eu achei. E aí, de repente, eu me vejo agora, sentindo tudo de novo com pavor, num sufoco, num incômodo, porque o meu marido disse que vai embora. São 20 anos juntos, e é verdade que nossa relação andava bem desgastada nos últimos meses e essa quarentena devido a pandemia piorou muito tudo isso, deu um nó na nossa vida. Ele tá todo na reflexão, se dizendo com a cabeça mais organizada em relação as coisas da vida, e decidiu que vai embora. Se antes era um falar da boca para fora, se aproveitou do fato que coincidiu com seu filho, que está com 29 anos, lhe dizer que quer morar na sua casa, que está vazia, e então acho que ele se apegou a uma idéia de resgate de si próprio e ao mesmo tempo de um outro resgate com esse filho, com qual sempre se sentiu culpado por coisas que ficaram mal resolvidas em relação à maneira como se comportou na sua infância e depois, ao longo dos anos, gerando um fastamento entre eles. Eu, particularmente não vejo dessa forma. Nunca vi. Peguei uma parte desse tempo, principalmente quando o garoto, ainda criança, morou com ele. E só o que eu vi foi amor, dedicação e preocupação. Uma importância tremenda do pai para com esse filho. E do que eu conheço do meu marido e o pouco que conheci do seu filho, me fez ver o quanto esse filho é egoísta e só age por interesse próprio, na verdade pouco se importando com o pai. Sempre achei e continuo achando que ele tem algum problema. Mas, eu acho que ele se aproveitou desse incentivo. Porém, me disse que não é a sua intenção que a gente se separe, ou seja, vamos continuar juntos, porém morando em casas separadas. Houve um tempo em que eu achei que isso poderia ser bom para nossa relação, mas dessa vez, e talvez pela maneira como as coisas aconteceram nos últimos tempos, isso bugou minha cabeça. Talvez porque eu tenha me acostumado com a sua presença, em tê-lo sempre por perto, eu também me acostumei a cuidar dele mesmo que às vezes me sentisse esgotada com isso. Simplesmente minha cabeça não tá aceitando essa nova realidade que ele pensa em vivermos. 
E aí eu não tô bem, e desde que ele me comunicou essa novidade, eu não consigo dormir até tarde como antes eu fazia (e gostava), se bem que isso tem um lado bom, porque eu queria passar a acordar cedo. Mas acordar cedo e não fazer nada não adianta muita coisa. Eu acordo cedo por desassossego, coração batendo a mil de ansiedade, numa angústia que não passa, e assim fico parada numa letargia que toma conta de mim. Fico deprimida, me sentindo fraca...
Eu preciso me ocupar com alguma coisa, eu preciso fazer algo de útil pra mim. Eu oro para que Deus me liberte desses sentimentos, me cure dessas emoções ruins. Eu tô esgotada, querendo fazer terapia, só que a grana é curta e eu fico pensando como é que eu vou bancar mais isso. Estou me sentindo sufocada, perdida, e sentindo dores que não sei como curar. E isso já tem uns meses (ele ainda não foi embora porque está arrumando a casa, fazendo umas reformas), começou antes dele ir pra Natal, meio que para ajudar sua sobrinha que mora lá, e tem um filho autista, meio que pra se afastar dessa nossa relação ruim. Ficou por lá quase dois meses e voltou ainda com a mesma idéia. Eu o sinto se distanciando e não sei como agir. Não sei se é coisa da minha cabeça, pois não falamos mais sobre isso. Estamos agindo normalmente, aparentemente. Tenho medo. E tô me acabando em angústias. Só consigo pensar que eu preciso me preparar para quando ele sair de casa. E eu não tô conseguindo. Cada dia que passa, meu esgotamento mental e físico me mostra que isso não é vida. Que eu preciso tomar uma atitude em prol de mim, resgatar meu amor próprio que eu nem sei por onde anda tem tanto tempo. E essa busca tá sendo tão terrivelmente dolorosa e difícil que me faz me perguntar se eu tenho mesmo esse tal amor próprio. E como é triste me fazer essa pergunta. Porque não é possível que eu seja uma pessoa tão fraca, tão sem brilho, tão sem luz assim. Que ponto eu cheguei.