domingo, 6 de setembro de 2020

Esquecer

Eu percebi que eu tô indo pelo caminho contrário há 20 anos. Tô indo pelo caminho errado. 
Durante todo esse tempo eu chorei, eu me desesperei, eu sofri, sempre querendo que ele me amasse, que me olhasse, que me percebesse, que me desse a importância que eu sentia não ter em sua vida. Eu ouvia aquela música do Peninha, que o Caetano Veloso gravou e que diz: "Por que você me deixa tão solta? Por que você não cola em mim? Tô me sentindo muito sozinha." E como doía no meu coração esses ouvir esses versos... Porque era exatamente assim que eu me sentia. Solta. Foram tantos anos, tanta dor por amar demais... Eu amei mais a ele do que a mim mesma, e isso nunca podia ter acontecido. Isso não pode ser normal. Eu não posso ter menos importância do que qualquer outra pessoa. Mas infelizmente foi assim que eu me senti, foi assim que eu agi, foi assim que eu vivi.
E hoje eu percebi que eu tenho que mudar essa realidade, ainda que tenha se passado tantos anos, não pode ser tarde. Eu tô viva e apesar da minha vida ser difícil no que tange a parte sentimental, não é uma ideia que me atrai deixar de viver. 
Eu hoje quero uma coisa só: focar em me desvencilhar desse sentimento que eu vivi sozinha muito tempo. Não quero mais amar essa pessoa que não me dá o retorno que eu preciso. Eu acho que ele sempre foi mais meu amigo do que outra coisa. E não que isso não tenho seu valor, não é isso! Mas eu sinto falta de um homem que me ame, que mostre isso com os olhos, com atos, palavras, com saudade, com vontade de estar perto de mim, que sinta minha falta como mulher. Mesmo com a massacrante rotina que a vida nos impõe. Se um dia ele sentiu isso, com certeza já acabou. Perdeu-se a motivação, a vontade, o tesão. Eu sei que tive minha parcela culpa, bastante até. Mas não adianta eu continuar amando e sonhando, tendo vontades, querendo ele para mim, comigo, sendo meu homem, se ele não sente mais a mesma coisa em relação a mim. Então, em nome de tudo que eu já vivi, de tudo que eu já passei com ele, todas as dores e mágoas, tudo que eu chorei por tanto tempo, eu não quero mais amá-lo. Eu desisto desse amor unilateral. Quero retirar esse amor de dentro de mim, quero poder olhar para ele como ele deve olhar para mim hoje, com carinho sim, amizade sim, e com respeito. Mas sem esse amor que eu cultivei por tanto tempo, e ainda que tenha adormecido pela rotina e dificuldades que encontramos ao longo do caminho, estava sempre ali. Eu preciso começar meu processo de esquecer esse amor. Esquecer ou transformá-lo em outro que seja bom pra nós dois, mas principalmente pra mim. Eu preciso. E é urgente.