quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Ledo engano

Meus últimos três dias foram tranquilos. Sem aquela ansiedade horrível, aquelas sensações de pânico que eu tava sentindo e todo o desconforto das últimas semanas... uma trégua. O Celso ficou em casa esses dias, e acho que por isso eu relaxei. Eu sinto falta dele perto de mim. Infelizmente a minha hemorróida me atacou e coincidentemente, a dele também. Eu a tenho há muitos anos desde que tive o Leonardo. Já o Celso, reclamou de um incômodo há uns dois anos, talvez, e agora aconteceu de novo. Foi meio hilária a situação, e descontraiu um pouco nossa relação apesar do incômodo físico que uma hemorróida causa. A gente com nossas bundas inflamadas, andando meio de perna aberta, usando pomada para aliviar... nosso cumprimento ao acordar era sempre, "E aí, melhorou a beirola?" E ríamos juntos. Ainda estamos cuidando, mas realmente melhorou bastante. 
Isso fez com que ficássemos um pouco mais próximos. Mas o que não mudou ainda e eu tô sentindo muita falta é de uma aproximação maior quando nos deitamos para dormir. Não tô falando de sexo, até porque nesse momento, com o nosso probleminha não daria. Tô falando de carinho, de um conchego nesse momento onde só estamos nós dois na cama, no silêncio da noite. Mas ficamos cada um no seu lado, parecendo não saber o que fazer. Nessa hora eu não sei o que ele pensa, mas eu sinto muito por essa distância estranha que me deixa bastante incomodada e sensível até adormecer. 
Em contrapartida, todo dia antes de sair para continuar com suas ocupações diárias, ele não sai sem me dar um beijinho nos lábios. Um ato que ao mesmo tempo que me deixa feliz, também me causa certa estranheza. Estranheza Porque diante de tudo o que a gente passou e falou nesses últimos dias, e a iminência dele ir embora, fez com que eu não saiba ao certo qual é o seu sentimento ao me beijar. Talvez eu esteja procurando fantasmas onde não existem, mas ele disse que vai embora, e eu não consigo esquecer isso. Eu me baseio nisso. Falamos duas vezes sobre esse assunto, antes dele viajar para Natal e depois que ele voltou, há um mês atrás, onde reafirmou sua intenção. Depois não falamos mais sobre isso novamente e, confesso, tenho medo do que posso ouvir. E isso está me causando um redemoinho de sentimentos e emoções, num desconforto real por essa nova realidade na minha vida.
Ele continua na obra, arrumando a casa. Enquanto isso, continuamos juntos numa relação delicada, pelo menos da minha parte, porque como eu não quero que ele se vá, não sei como me comportar diante disso. 
Consegui dormir três noites mais tranquila, mas ontem bateu a angústia novamente. Foi só ele comentar que pela manhã iria sair para procurar pisos, pois o filho já tinha disponibilizado um dinheiro para a compra do material. E aí a ficha caiu de novo. A reforma da casa tá acontecendo porque eles estão empenhados em irem morar lá assim que a casa tiver condição de abrigá-los. E como ele sabe que eu não quero que ele vá embora, então penso que esse beijinho que me dá antes de sair, de uma certa forma, é um afago de consolo para que eu não sinta tanto antes dele ir de uma vez. Ledo engano.