sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Casca

Um dia eu achei que fosse forte. Eu realmente achei que eu fosse uma pessoa forte. Não sei se na verdade nunca fui, ou se perdi as forças com o passar do tempo, com o cansaço, com o desânimo e com a desesperança que tomou conta de mim. Minha vida é tão sem graça... acho que sempre foi. Eu é que nunca havia parado pra perceber ou dar importância pra isso. O que eu vivia e o que eu fazia me satisfazia. Não me incomodava. Ou eu achava que me satisfazia. Acho que, no meu mundinho, eu vivi à margem das coisas que aconteciam, das duras realidades do cotidiano, não percebendo as malícias do mundo, as maldades das pessoas. Se por um lado isso me protegeu por muito tempo, hoje sinto que pago por ter sido tão desligada e desatenta. Tão ingênua e tão boba, eu não criei casca para minha proteção. Hoje eu me sinto descoberta, exposta e frágil. Atrapalhada, sem saber o que fazer ou como fazer. Inexperiente nos traquejos da vida. Eu, hoje, aos 53 anos, me sinto perdida. Sozinha. Desamparada.